terça-feira, 15 de outubro de 2013

Carta de Despedida...

Querido,

Dizer adeus nunca foi meu forte, e desconfio que não seja o de ninguém.
Pensei durante muito tempo no assunto, e cheguei a conclusão  de que, se existem almas gêmeas, nós estamos incrivelmente longe de alcançar isso.
Você foi em algum momento especial pra mim, mas já não me recordo o motivo pelo qual você seria. Talvez seja para outra pessoa em algum outro momento.
Seu jeito certinho de querer os pingos nos "i's" nunca combinou com a minha bagunça, e talvez essa seja a diferença que abre um abismo entre nós.
Por estes motivos (que talvez não pareçam suficientes) e outros, que estou te devolvendo aquele livro que me emprestou no mês passado, o anel de noivado, as dezenas de bichos de pelúcia - que aliás, nunca gostei - e as flores de plástico. "Porque devolver as flores?" você deve estar se perguntando, mas, se lembra que eu lhe disse uma vez que as flores de plástico não morrem? Pois bem, estas morreram queimadas junto com o que sobrou do amor.

Adeus


maquina de escrever

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Ocos

Um velho simpático de barba comprida, cabelos brancos, olhos negros e amáveis de um sorriso contagiante descia a rua com sua gaita azul tocando um blues animado.
Fazia gracejos pela rua, cumprimentava os rapazes, fazia crianças sorrir, e acenava para as moças com seu chapéu gasto.
Tocava por amor, alma, vida e poesia.
Trazia consigo um fiel seguidor: tinha pelos longos e sujos, dentes afiados, focinho comprido. Uma companhia mais do que agradável, chamava-se Bentão.
O cão farejava o rastro do dono, percorria ruas, avenidas e vielas, lado a lado em busca de uma boa aventura. Quem sabe livraria-se da vida complicada dessa gente que vive atolada de compromissos, pesadelos, sonhos inalcançados.
E os dois viviam do que sobrava da boa vontade que ainda existia no ser humano.
- Você não precisa morrer pra acreditar que existe vida, só precisa dar um pouco mais de calma ao tempo. - Dizia o velho ao cão.
E o cão apontava o focinho para a rua observando todas aquelas pessoas cheias de vazio que nunca se deram conta de que muitas vezes a felicidade não é o sapato bonito, o jantar bem farto, o tablet novo, o celular de última geração...não estou dizendo que isso não os deve fazer feliz, mas sim que isso passa e fica no tempo. O topo da pirâmide não pertence a ninguém por muito tempo. Abandone as ilusões.


European Portraits: No. 20 by ~Nullermanden on deviantART

domingo, 6 de outubro de 2013

Máquina do Tempo

 - Então é isso? Você quer voltar no tempo, realizar algumas coisas e acha que isso a tornaria mais feliz? - Passou a mão na barba de forma pensativa.

- É.  É exatamente isso. - E então me dei por satisfeita pelo meu desejo ser compreendido.

- Então você sabe que isso mudaria completamente o seu destino, e que nós não estaríamos tendo essa conversa agora, né? Você sabe muito bem que todas as suas boas lembranças também seriam apagadas e que da mesma forma que você viveu maus momentos deste lado, mudar de caminho não significa que você não passará por maus bocados... Você tem certeza que quer voltar?
Estalei os olhos pois não havia pensado por este ângulo ainda.  Talvez fosse ainda pior do outro lado. Talvez eu continuasse me sentindo insatisfeita. Talvez alguns anos perdidos não fossem me fazer diferença. Talvez seja melhor terminar essa história e ter certeza de que de alguma forma, do outro lado teria sido igual.

sábado, 5 de outubro de 2013

Anverso, verso - Inverso

 Noite de Natal - Inverso


Eu não sabia se meu desejo era matar ou morrer quando vi o André abobalhado trocando olhares com aquela mulher. Senti que meus esforços até então, haviam sido em vão e eu o perderia para alguém que nunca esteve presente verdadeiramente em sua vida.
Cheguei a assimilar essa história ao romance clichê produzido por Stephenie Meyer a fim de entreter as cabeças desocupadas dos adolescente.
Eu vi.
Eu senti.
Aqueles corpos se chamavam  como fogo e gasolina, e se não fosse pela minha insistência naquilo que eu queria, teria uma explosão diante dos meus olhos.
Meu corpo ardeu de dores quando ele sorriu em resposta a ela.
Não poderia haver nenhuma brecha, caso contrário, ele iria até ela, tê-la em seus braços como sempre quisera. Jamais poderia ser amada como ela um dia foi, mas sentindo todo aquele clima, resmunguei alto para que o encanto fosse quebrado e em pouco tempo, consegui liberta-lo de seus feitiços.
Nunca em minha vida, houve um natal que eu tivesse de odiar tanto quanto aquele, em que eu descobri que seu coração pertencia para sempre há alguém que não o merecia.